21 setembro 2009

Dicionário de Carioquês

MAPAS DO BRASIL SEGUNDO OS CARIOCAS



















































































































DICIONÁRIO DE CARIOQUÊS




1. Advérbio de lugar ("A parada está por aê)

2. Vocativo genérico ("Aê, tu viu a parada?)

3. [pô ] Partícula composta iniciadora de frase ("Pó, aê, sei lá, bro")


Apaixonar-se: Amar.

Arroz: O que só acompanha. Sujeito que vive rodeado de mulheres, tem muitas amigas, é doido pra ficar com todas, mas não pega nenhuma. Sinônimos: Arame-liso (cerca, mas não machuca); mestre-sala (dança em volta, apresenta pra todo mundo mas não encosta e não deixa ninguém encostar); Mosca de padaria (tá sempre sobrevoando a guloseima e tomando tapa)

Bagaray: adv.] v. Pacaraio.

Boiola: [adj.] Homossexual masculino; gay; bicha; baitola, viadinho.

Bolado: adj. Condição de incompreensão momentânea ou preocupação em qualquer nível. Também grande irritação,tipo estar puto,chateado.

Bonde
1. Ônibus.
2. Galera, turma.

Botar a cara: Aparecer.

Brother;Brou; Fiel: Amigo,companheiro.

Bucha: Indivíduo com marra de malandro, mas que não passa de um tremendo prego; nas antigas era chamado de malandro coca-cola (é só dar um sacode, que ele perde o gás)

Cabaço: Sujeito trapalhão ("Tu viu que merda? Esse cara é mó cabação!")

Cair na porrada: Brigar.

Caô: Mentira.

Caralho
1. Interjeição ("Caralho!")

2. [pa-] Advérbio de intensidade ("Em Terê tava frio pacaraio.")

Chabí:1. [ttk] v. boiola

Chatuba: Ato de esculhambar, avacalhar e perder a linha da forma mais sacana
possível ("Eu vou chatubar nessa parada!")

Coé: Aglutinação de "Qual é"/"Qualé" ("Coé, sangue?"):Oi.

Coéééé,parceiro? Tranquilidade,irmão?: Oi,tudo bem?


Conto: Unidade monetária sem plural ("Essa parada custa 10 conto")


Dar um perdido: Sair escondido.

Dar um relax: Tentar descansar, relaxar.

Dar um perdido: Sair escondido.

Dar um rolê: Passear.

Desenrolar: Conversar.

É nóis; Tamo junto;Tudo nosso: Deixa comigo.

Escutar um batidão: Ouvir música.

Fala Aê: Alô.

Fala aê, manolo, qual a boa?: Oi,amigo, como vai?

Ficou pequeno pra ele: Ser mal-falado.


Filé

1. Mulher muito atraente, com um shape invejável.

2. Fisioterapeuta do Romário, Ronaldo, e Guga Kuerten.

Filhadaputa

1. Interjeição genérica de descontentamento, usada após qualquer acontecimento desagradável e/ou inesperado.

2.Adjetivo utilizado para humilhar.

Ver fura-olho e juiz de futebol.

Foda
1. Qualificação indicativa de dificuldade ("Aquela parada é foda!"). 2.Qualificação positiva indicando algo muito bom ("Aquela parada é
foda!").
3. Qualificação que indica algo impressionante ("Aquela parada é
foda!").

Foi mal: Desculpe.

Fura-olho[adj.] Pessoa incapaz de realizar o coito, e que por isso vive de impedir o sucesso alheio. Ver filhodaputa. É o tradicional empata-foda.

Goiaba
[adj.] Diz-se do indivíduo distraído, aéreo, que viaja sozinho, em
goiabices. Goiabar - [verb. int.] Ato ou ação de estar goiaba ("Estava
lá sentado, olhando para o céu, goiabando").


Ih,ò o cara: “Olha só, viu o que ele está fazendo”?

Impor: Pedir.

Invadir: Entrar.

Ir pra night; noitada: Sair para se divertir, curtir a noite.


Irado
1. Qualificação positiva relacionada a um fato, ocorrência ou objeto ("O Enecom na PUC foi irado!").

Lance
1. V. parada.

2. Substância líquida usada como entorpecente;


Já É: Sim.

Larica: Fome.


Leva Aí: Conta,fala.

Maluco: Cara; sujeito; indivíduo ("Eu não conheço aquele maluco"; "Estava com uns malucos da escola")

Mandar um caô: Mentir.

Mandar uma real: Dizer a verdade.

Mané: Otário; vacilão; prego; sujeito que pisa na bola.

Massa: Macarrão e similares. Não confundir com "maneiro".

Maneiro: Show de bola; maneiríssimo; paulista mané gosta de chamar de
"massa".

Marrento: Metido.

Mel
1. Bebida alcoólica artesanal fabricada com cachaça e mel; melzinho.

2.[Ter mel]: Qualidade de atrair a atenção sentimental e/ou hormonal de
fêmeas ("Aquele maluco tem mel"); v. pica-doce.

3. [malandrês] Sangue ("Levou um soco nos córneos e começou a escorrer mel do nariz")

Mermão (masculino)
1. Aglutinação de meu irmão ("Aí, mermão, que parada é essa?")

Mete o pé; Vaza: Vai.

Mó: Aglutinação de maior ("Ih, coé? Mó otário, aê!").

Mó comédia: Pessoa desacreditada pelos outros por causa de suas ações.

Na mão do palhaço:[Termo composto] Diz-se de pessoas entorpecidas, não importa com qual substância ("Virou dez copos de pinga e agora tá na mão do palhaço").

Na moral: Por favor.

No maior gás: Fazer algo rapidamente.

O bagulho tá doido!; O Bicho pegou!; Tá sinistro!: A situação ficou péssima.

Parada: Substantivo genérico ("Que parada é essa?", "Esqueci aquela parada em casa", "Preciso fazer uma parada").

Paraíba: Indivíduo nascido ou residente acima do paralelo que passa por Copacabana.

Peidão: Covarde, frouxo, borra-botas.

Péla-saco
1. Pessoa chata; piegas.

2. Puxa-saco; baba-ovo; rabiola.

3. V. arroz.

Perdeu a linha- [Termo composto] Diz-se do indivíduo que cometeu um ato inconseqüente/insensato ("Perdeu a linha e virou seis doses de tequila em meia-hora"; "Perdeu a linha e foi o centro das atenções na festa da empresa").

Pica-doce - [sin. Doce, pikachu]

1. Cara pegador.

2. Sujeito pra quem muitas mulheres dão mole.

3. Cara que arranja mulher sem tomar uma atitude.

Piloto: Motorista de ônibus.

Pipoqueiro: Aquele que costuma pipocar, v. peidão.

Pisante: Tênis.

Pistoleira: Pessoa de má-índole, geralmente interessada apenas no dinheiro do parceiro.

Popozuda - [adj.] Mulher que possui uma região glútea avantajada e/ou
excessivamente acolchoada.

Porra
1. Interjeição ("Porra!").

2. Advérbio de intensidade ("Em Terê tava um frio da porra!").

3. Substantivo indefinido ("Que porra é essa?").

4. [sa] Pronome pessoal da 3ª pessoa do singular ("Ele fica me arrozando...ah, não aguento mais saporra!)

Porrada

1. Coletivo genérico (multidão - uma porrada de gente; matilha - uma porrada de cachorros)

2. Sin. pacaraio.

Prego: [adj.] v. mané.

Protestar: Reclamar.

Puto

1. [adj.] qualifica um sujeito extremamente vacilão.

2. Unidade monetária ("Não tenho um puto").


Qual foi?: O que aconteceu?

Queimar a rosca: Praticar sexo anal.

Sacode: Ato caracterizado por várias pessoas que se juntam para encher de porrada uma única.

Sangue: Redução de sangue-bom; pessoa legal; gente boa; agradável; maneira.

Se Apaixonar: Amar.

Se ligar: Entender.

Tá de sacanagem: Tá brincando comigo.

Tchola (tchôla:) v. boiola; baitola.

Tomar um beiço: Cair em um golpe.

Tranquilo: Certo.

Tu: Terceira pessoa do singular dos pronomes pessoais do caso reto ("Tu viu", "Tu faz", "Tu é").

Usar Um Cordão: Usar Um Colar.

Vacilo; Vacilagem: Engano,equívoco,dar bobeira.

Valeu: Obrigado.

Zero-bala: Renovado; pronto pra outra ("Tava de porre ontem, mas agora tô zero-bala.").












O Carioca É. Antes de Tudo.


Millôr Fernandes (In "Que País é Este?", Editora Nórdica - Rio de Janeiro, 1978, pág. 50.)

Os paulistanos (!) que me perdoem, mas ser carioca é essencial. Os derrotistas que me desculpem, mas o carioca taí mesmo pra ficar e seu jeito não mudou. Continua livre por mais que o prendam, buscando uma comunicação humana por mais que o agridam, aceitando o pão que o diabo amassou como se fosse o leite da bondade humana. O carioca, todos sabem, é um cara nascido dois terços no Rio e outro terço em Minas, Ceará, Bahia, e São Paulo, sem falar em todos os outros Estados, sobretudo o maior deles o estado de espírito. Tira de letra, o carioca, no futebol como na vida. Não é um conformista - mas sabe que a vida é aqui e agora e que tristezas não pagam dívidas. Sem fundamental violência, a violência nele é tão rara que a expressão "botei pra quebrar" significa exatamente o contrário, que não botou pra quebrar coisa nenhuma, mas apenas "rasgou a fantasia", conseguiu uma profunda e alegre comunicação - numa festa, numa reunião, num bate-coxa, num ato de amor ou de paixão - e se divertiu às pampas. Sem falar que sua diversão é definitivamente coletiva, ligada à dos outros. Pois, ou está na rua, que é de todos, ou no recesso do lar, que, no Rio é sempre, em qualquer classe social, uma open-house, aberta sob o signo humanístico do "pode vir que a casa é sua".

Carioca, é. Moreno e de 1,70 metro de altura na minha geração, com muitos louros de 1,80 metro importados da Escandinávia na geração atual, o carioca pensa que não trabalha. Virador por natureza, janota por defesa psicológica, autocrítico e autogozador não poupando, naturalmente, os amigos e a mãe dos amigos - ele vai correndo à praia no tempo do almoço apenas pra livrar a cara da vergonhosa pecha de trabalhador incansável. E nisso se opõe frontalmente ao "paulista", que, se tiver que ir à praia nos dias da semana,vai escondido pra ninguém pensar que ele é um vagabundo.

Amante de sua cidade, patriota do seu bairro, o carioca vai de som (na música), vai de olho (é um paquerador incansável e tem um pescoço que gira 360 graus), vai de olfato (o odor é de suprema importância na fisiologia sexual do carioca).

Sem falar, que, em tudo, vai de espírito; digam o que disserem, o papo, invenção carioca, ainda é o melhor do Brasil, incorporando as tendências básicas do discurso nacional: o humanismo mineiro, o pragmatismo paulista, a verborragia baiana.

E basta ouvir pra ver que o nervo de todas as conversas cariocas, a do bar sofisticado como a do botequim pobre e sujo, por isso mesmo sofisticadíssimo, a do living-room granfa, a da cama (antes e depois), é o humor, a crítica, a piada, a graça, o descontraimento. Não há deuses e nada é sagrado no Olimpo da sacanagem. O carioca é, antes de tudo, e acima de tudo, um lúdico. Ainda mais forte e mais otimista do que o homem da anedota clássica que, atravessado de lado a lado por um punhal, dizia: "Só dói quando eu rio", o carioca, envenenado pela poluição, neurotizado pelo tráfego, martirizado pela burocracia, esmagado pela economia, vai levando, defendido pela couraça verbal do seu humor.

Só dói quando ele não ri.

Só dói quando ele não bate papo.

Só dói quando ele não joga no bicho.

Só dói quando ele não vai ao Maracanã.

Só dói quando ele não samba.

Só dói quando ele esquece toda essa folclorada acima, que lhe foi impingida anos a fio com o objetivo de torná-lo objeto de turismo, e enfrenta a dura realidade... carioca.











Trecho de Estado da Guanabara, de Vinicius de Moraes ("Para Viver Um Grande Amor", Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1984, pág. 185)

"Um carioca que se preza nunca vai abdicar de sua cidadania.
Ninguém é carioca em vão.
Um carioca é um carioca.
Ele não pode ser nem um pernambucano, nem um mineiro, nem um paulista, nem um baiano, nem um amazonense, nem um gaúcho.
Enquanto que, inversamente, qualquer uma dessas cidadanias, sem diminuição de capacidade, pode transformar-se também em carioca;
A verdade é que ser carioca é antes de mais nada um estado de espírito
Eu tenho visto muito homem do Norte, Centro e Sul do país acordar de repente carioca, porque se deixou envolver pelo clima da cidade e quando foi ver... kaput! Aí não há mais nada a fazer. Quando o sujeito dá por si está torcendo pelo Botafogo, está batendo samba em mesa de bar, está se arriscando no lotação a um deslocamento de retina em cima de Nélson Rodrigues, Antônio Maria, Rubem Braga ou Stanislaw Ponte Preta, está trabalhando em TV, está sintonizando para Elizete.

Pois ser carioca, mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa, em meio à sua adorável desorganização. Ser carioca é não gostar de levantar cedo, mesmo tendo obrigatoriamente de fazê-lo; é amar a noite acima de todas as coisas, porque s noite induz ao bate-papo ágil e descontínuo; é trabalhar com um ar de ócio, com um olho no ofício e outro no telefone, de onde sempre pode surgir um programa; é ter como único programa o não tê-lo; é estar mais feliz de caixa baixa do que alta; é dar mais importância ao amor que ao dinheiro. Ser carioca é ser Di Cavalcanti.

Que outra criatura no mundo acorda para a labuta diária como um carioca? Até que a mãe, a irmã, a empregada ou o amigo o tirem do seu plúmbeo letargo, três edifícios são erguidos em São Paulo. Depois ele senta-se na cama e coça-se por um quarto de hora, a considerar com o maior nojo a perspectiva de mais um dia de trabalho; feito o quê, escova furiosamente os dentes e toma a sua divina chuveirada.

Ah, essa chuveirada! Pode-se dizer que constitui um ritual sagrado no seu cotidiano e faz do carioca um dos seres mais limpos da criação. Praticada de comum com uma quantidade de sabão suficiente para apagar uma mancha mongólica, tremendos pigarreios, palavrões homéricos, trechos de samba e abundante perda de cabelo, essa chuveirada -- instituição carioquíssima restitui-lhe a sua euforia típica e inexplicável: pois poucos cidadãos poderão ser mais marretados pela cidade a que ama acima de tudo. Em seguida, metido em sua beca de estilo, que o torna reconhecível por um outro carioca em qualquer parte do mundo (não importa quão bom ou medíocre o alfaiate, de vez que se trata de uma misteriosa associação do homem com a roupa que o veste), penteia ele longamente o cabelo, com gomina, brilhantina ou o tônico mais em voga (pois tem sempre a cisma de que está ficando careca) e, integrado no metabolismo de sua cidade, vai a vida, seja para o trabalho, seja para a flanação em que tanto se compraz.."





















Cariocas - Adriana Calcanhotto

Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam de dias nublados

Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexys
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado












Gaúchos E Cariocas (Luiz Fernando Veríssimo) in O Melhor das Comédias da Vida Privada,Ed.Objetiva


É preciso dizer que estávamos naquela brumosa terra de ninguém, que fica depois do décimo ou do 15º chope. Tão brumosa que não dá mais para distinguir entre o décimo e o 15º. Tínhamos sido apresentados no começo da noite mas já éramos amigos de infância. Em poucas horas nossa amizade passara por vários estágios, desde o “leste o livro do Chico?”, até as piores confidências, e agora nos comportávamos como confrades, como se nossa amizade fosse mais antiga que nós mesmos. Isto é, estávamos brigando.

- Vocês, gaúchos…

- O que é que tem gaúcho?

- Pra mim gaúcho é tudo veado.

- Não radicaliza.

- Se tem que dizer que é macho, é porque não é.

- Lá no sul se diz que numa briga de gaúcho, paulista, mineiro e carioca, o gaúcho bate, o paulista apanha e o mineiro aparta.

- E o carioca?

- Fugiu.

- Viu só? Pensam que são mais machos que os outros. Diz que as bichas de Paris protestaram porque as bichas cariocas estavam invadindo o seu mercado: “Voltem para o Rio. Go home!”. Aí as bichas cariocas reagiram: “Ah, é? Então tirem as gaúchas de lá.”

- Está aí, fugiram. Mas isso tudo é mágoa porque são os gaúchos que mandam neste país. Vocês estão assim desde que nós amarramos os cavalos ali no obelisco.

- Aliás, essa fixação no obelisco…

- Gaúcho é o único brasileiro sério.

- Sem graça não é sério.

- Só o gaúcho fala português. Essa língua de vocês não existe. Paulista põe “i” onde não têm. Você falam chiando. Onde tem um “r” botam dois e onde tem dois botam quatro.

-Vocês falam espanhol errado e pensam que é português!

- Mas o que a gente diz é pra valer. Não é como carioca que diz uma coisa e quer dizer outra.

- Ah, é?

- É. Quando carioca encontra alguém e diz: “Meu querido!”, quer dizer que não se lembra do nome. “Precisamos nos ver” quer dizer “está combinado, eu não procuro você e você não me procura”.

- O que vocês não aguentam é que nós, cariocas, somos informais, bem-humorados…

- Isso é mito. Entra num “Grajaú-Leblon” lotado na Nossa Senhora de Copacabana, às três da tarde, no verão, que eu quero ver o bom humor.

- Não radicaliza.

- Os mitos cariocas. O Zico, por exemplo…

- Eu sabia. Eu sabia que ia chegar no Zico!

- O Zico é uma entidade abstrata criada pelo inconsciente coletivo do Maracanã.

- O Campeão do Mundo. Campeão do Mundo!

- Porque não entrou um inglês no calcanhar dele. Se encosta um, o Zico cai.

- É. O bom é o Batista.

- Não troco um Batista por dois Zicos.

- Ai, meu Deus. Ai, meu Deus!

- Outra coisa: mulher.

- Claro. Mulher. A mulher carioca não vale nada.

- Vale. Mas é sempre da mesma cor. Mulher tem que ir mudando de cor com as estações. Quando chega o verão, as gaúchas vão tostando aos poucos, como carne num braseiro de chão, até estar no ponto. Só ficam prontas mesmo em fevereiro. A carioca está sempre bem passada. É como comer churrasco em bandeja.

- É. A medida de todas as coisas, para o gaúcho, é o churrasco. A comida mais sem imaginação que existe.

- Vai dizer que comida é isto que vocês comem aqui?

- Mas bá.

Eu estava levando o chope à boca e parei.

- O que foi que você disse?

- Eu? Nada.

- Você disse “mas bá”.

- Não disse.

- Disse. Eu ouvi nitidamente um “mas bá”.

- Está bem. Eu disse.

- De onde você é?

- Dom Pedrito.

Estava no Rio há menos de dois anos e chiava como uma locomotiva no cio. Mas não me senti triunfante. Me senti derrotado. Eu estranhara ele não ter dito: “Se você gosta tão pouco do Rio, o que é que está fazendo aqui?”. Eu não poderia responder a não ser com a verdade, que era fascinado pelo Rio. Uma característica de gaúcho é que gaúcho é fascinado pelo Rio. E ali estava ele como prova que depois do fascínio vinha a rendição, a vitória carioca. Acabou a discussão. Nos despedimos e saímos, cada um cambaleando para um lado. Na saída ele ainda disse:

- Precisamos nos ver…













SER CARIOCA É






Abastecer a despensa numa loja de conveniência: É caro, mas o posto de gasolina fica logo ali e não tem hora para fechar,porque “Logo ali” e “Não tem hora para fechar” são convites irresistíveis para um carioca.

Abrir a happy hour às 02:00 da tarde.

Acampar na Ilha Grande pelo menos uma vez na vida.

Aceitar a demagogia de certos governadores.

Achar engraçado o sotaque dos outros.

Achar natural a presença do ambulante no ônibus vendendo amendoim crocante.

Achar normal uma bala perdida matar o vizinho.

Achar que chuva significa frio.

Achar que não tem sotaque, só os outros.

Achar que paulista não malha e nem vai à praia.

Achar que todas as mulheres de outros Estados darão moral pros cariocas.

Achar uma irresponsabilidade muito grande da prefeitura não agir com rigor contra a epidemia de dengue.

Acordar às 02:00 da tarde e dizer que não dormiu.

Acordar depois do Meio-Dia e ir pegar onda.

Adorar filé com queijo. O sanduíche perfeito do carioca leva filé mignon, queijo derretido e, no máximo, uma rodela de abacaxi, como na imbatível versão do Cervantes.

Afirmar,orgulhoso: “Yes,we créu”.

Agir com naturalidade ao encontrar artistas globais na rua,na praia,nos shoppings ou em qualquer outro lugar.

Aguentar a inveja e o ódio de quem não vive na Cidade Maravilhosa.

Ainda não conhecer ou mal conhecer,o Bondinho e o Corcovado.

Almoçar salgado e refresco a R$ 1,00 em qualquer botequim.

Amar Biscoito Globo com Coca-Cola de casco, Matte Leão, Chicabon, feijoada,pão na chapa, camarão com chuchu, e sanduíche de pernil.

Amar carnaval.

Amar carro e bicicleta.

Amar de paixão bife com batata frita.

Amar e respeitar muito esta cidade porque, mesmo com todos os seus problemas, ela é a nossa Cidade Maravilhosa.

Amar o sol e o calor, mas ligar o ar condicionado só pra dormir de conchinha.

Amar o sotaque do Sul em meninas, mas achar gay em meninos.

Amar os vizinhos.

Amar praia.

Andar de casaco com 20ºC.

Andar em grupos.

Andar sem camisa e só de bermuda e chinelo no metrô.

Apesar de tudo e de todos criticarem,causar inveja do mesmo jeito.

Aplaudir o pôr do sol no Posto 9-Ipanema.

Apreciar a cidade do alto do Pão de Açúcar.

Apreciar o Pão de Açúcar ,Cristo Redentor, Ponte Rio-Niterói , Baía de Guanabara, ou Praia de Icaraí, do Aterro do Flamengo.

Assistir a Orquestra Sinfônica no Municipal, ou aos eventos de qualidade com preços populares, que sempre acontecem.

Assistir a um desfile de Escola de Samba na Marquês de Sapucaí.

Assistir a um futebol de domingo acompanhado de churrasco e pagode.

Assistir o Ano Novo chegar em Copacabana

Avançar um sinal de trânsito sempre que puder, para não perder o costume irreverente de ser e de viver.

Babar com comida mineira.

Bater bola até com um caroço.

Beber uma gelada no "AM/PM" antes da night.

Buzinar assim que o sinal abre.

Cantar o refrão imortalizado pelo Zeca Pagodinho: "Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu".

Chamar o dono das kombis que o vendem o Podrão (cachorro-quente com queijo parmesão, milho, ervilha, cebola, batata-palha, passas e ovo-de-codorna) pelo apelido.

Chamar todo mundo de “Irmão”.

Chegar na boate à uma da manhã e sair às duas.

Chegar na janela e procurar o Cristo.

Colar no carro um adesivo "Eu já fui assaltado".

Colocar catchup e mostarda na pizza.

Combinar um programa sem a menor intenção de ir.

Começar o campeonato já sabendo o vice.

Começar um barraco com a frase "Olha aqui, minha filha(o)...!" ou "Oquêquihá,porra?"

Começar alguma conversa com "Olha só..."

Comer feijão preto.

Comer milho verde na praia ao cair da tarde.

Comer no Cervantes, na Guanabara, ou em um trailer de cachorro-quente depois da night.

Comer o cabrito do Capela.

Comer pizza com catchup, sim, e daí?

Comer pizza no balcão da Guanabara,que é melhor do que a servida na varanda (o salão, todo mundo sabe, é para turistas). Analistas sérios dizem que é porque ela chega mais rápido para quem está de pé. E discutem isso no balcão da Guanabara, claro.

Comer uma MÓÁRTADELA.

Comprar Itaipava a R$ 1,00 no baile funk.

Confiar nos próprios instintos.

Conhecer alguém que esteve na final das eliminatórias da Copa de 70.

Conhecer barulho de tiros fuzil, ter medo, mas não se afligir.

Conhecer todo mundo no bairro.

Conhecer todos os bairros do Rio, mesmo que apenas por ter passado de ônibus

Conversar com o ascensorista e passar do andar.

Convidar para sua casa alguém que você acabou de conhecer.

Conviver, mesmo sem aceitar,com a falta de segurança pública.

Crer na força das sete ondas que pula na praia de Copacabana, no badalar da Meia- Noite na passagem do ano, nas flores para Iemanjá, lançadas com perfume. Seja em casa, nos terreiros ou nas igrejas, o carioca não deixa de pedir proteção ao padroeiro, mas crê também em São Jorge Guerreiro, de quem é devoto. Em Cosme e Damião (para alegria da molecada) e no Seu Zé, espelho de sua personalidade boêmia.

Cumprimentar com dois beijos nas bochechas.

Curtir os Arcos da Lapa.

Curtir um show na Lapa.

Curtir um show de pagode – ou até dos Rolling Stones - de graça na praia.

Dar a vida pela escola de samba.

Dar a volta no flanelinha: nada se compara à felicidade de arrancar com o carro sem dar dinheiro para os vagabundos que loteiam as ruas.

Dar "Bom-Dia" no elevador.

Dar graças a Deus - sempre - por não ter nascido e nem viver em São Paulo.

Dar informação errada quando vir que a placa do carro é de São Paulo.

Dar inveja nos "não-cariocas" pelo simples fato de sermos cariocas.

De repente nem aparecer.

Detestar filas, mas não conseguir delas escapar.

Diminuir São Paulo.

Dizer “Vem” e se assustar com a campainha.

Dizer que paulista é recalcado.

Dizer que esse papo de bala perdida e de assalto é ignorância de causa, porque em São Paulo é muito mais perigoso.

Dizer sim sem balançar a cabeça e depois virar pro lado e dizer: “Ahn?”

Dormir até tarde sem pressa de viver.

Dormir bem tarde, só pra não ter que acordar cedo.

Driblar,a cada hora, uma bala perdida.

Encarar os problemas sem perder a generosidade.

Encontrar com celebridade na rua e virar o rosto para olhar o pôr-do-sol.

Enfrentar,sem perder o bom-humor, o trânsito cada dia mais caótico.

Engrandecer seu bairro.

Entender porque a maioria dos estrangeiros acha que o Rio de Janeiro ainda é a capital do Brasil.

Escutar música clássica em casa enquanto o vizinho ouve um pagode no volume máximo e não reclamar.

Esquecer o guarda-chuva.

Estar no Rio no Carnaval e não ir ao Sambódromo.

Estar sempre bronzeado.

Estar sempre de bem com a vida.

Estar sempre feliz da vida por morar no lugar onde o resto do mundo passa férias.

Falar com o "R" arrastado e com o "S" com som de "X" e exagerar ainda mais quando está sendo observado, principalmente por paulistanos/paulistas: "Beijox”, ''Bixcoito", “Bora lá”, "Coisax"," Eixpero",“Mermo”,e "Pô,bicho", além de questionar:“Pra que falar “Bolacha” se no pacote está escrito “Biscoito”, né?”

Falar “Cara” e “Tipo” em pelo menos uma frase no dia-a-dia.

Falar “Brother” e “Merrrmão” na mesma frase, como se tivessem sentidos diferentes.

Falar sempre: "Praia de paulixxxxta é shopping center".

Falar uma frase inteira só com vogais: ”Ó o auê aí, ô...”

Falar de política.

Falar sem medir consequências.

Fazer amigos na praia, na fila, no ônibus, no metrô, na rua.

Fazer contagem regressiva para o fim de semana.

Fazer de tudo uma ida à esquina.

Fazer festa, quase aos gritos, quando reencontra um amigo.

Fazer lual na praia e ter certeza que é melhor que qualquer "balada".

Fazer melhores amigos, convidar para madrinha na fila do pão, do banco, do ônibus.

Fazer o pedido no bar sem precisar do cardápio.

Fazer um seriado chamado “As Brasileiras” com todas as protagonistas cariocas.

Ficar colado na roleta do ônibus, dar o sinal pra descer, e gritar: “Calma, piloto!”

Ficar feliz com o Horário de Verão, porque isso significa uma hora a mais na praia.

Ficar indignado quando um motorista aproveita a passagem de uma ambulância com a sirene aberta para vencer o trânsito, assim como o motorista do carro atrás fica indignado com a ponta do cigarro que você acabou de jogar pela janela,mas ele não desgruda do celular enquanto dirige, e passa marcha com apenas uma das mãos.

Ficar irritado em dias de chuva.

Ficar reclamando do JK por ter transferido a capital para Brasília.

Ficar sabendo dos programas na praia.

Ficar surdo com sotaque paulista,

Ficar triste quando o Horário de Verão acaba.

Flertar com a lua, sendo amante do sol.

Frequentar a Biblioteca Nacional.

Fora do Rio, ser reconhecido só pelo jeito de andar.

Garimpar as novidades da variadíssima baixa gastronomia urbana.

Garimpar na Saara e horas depois voltar para casa com sacolas e sacolas cheias de flores de plástico, camisas costuradas em 1974, anáguas que viram saias, cortinas de plástico para banheiro, tapetes de grama artificial ,etc. Tudo por uns R$ 50,00 no máximo.

Gostar de comida simples.

Gostar de Copacabana, mas concordar que é o "Bairro dos Pês": Praia, puta, poodle e pessoas idosas.

Gostar de havaianas em qualquer ocasião.

"Gostar de ovo frito em cima de qualquer prato" (Carlos Heitor Cony)

Gostar de roda de samba na esquina. Sem clube nem turma.

Gostar de viajar, mas adorar voltar pra casa.

Identificar-se com as letras do Funk.

Ignorar os panfleteiros.

Imitar os paulistas.

Implicar com os paulistas.

Incorporar gírias da malandragem,sabendo que o resto do país depois vai imitar.

Indignar-se com a inveja dos "não-cariocas" com o habitual "Faaala sério"

Insistir em passar finais de semana na Região dos Lagos( Cabo Frio, Búzios) ou na Serra (Petrópolis,Teresópolis,ec), apesar dos grandes engarrafamentos na ida e na volta.

Invejar o vigor da vida cultural paulista.

Ir à Feira de São Cristóvão: Onde mais comer carne-de-sol e queijo coalho às 5:00hs da manhã?

Ir a Niterói só para ver a mais linda vista do mundo.

Ir à praia em dias nublados.

Ir à praia sempre no mesmo lugar.

Ir à praia,mesmo com o mar poluído, por não conseguir acreditar que possa pegar uma doença em águas e areias tão queridas.

Ir a um ensaio de escola de samba: Na quadra, com amigos e muita cerveja gelada, cercado pelo pessoal da comunidade... Ah, isso é essencial.

Ir ao shopping como quem muda de cômodo.

Ir ao shopping de camiseta e chinelo havaiana.

Ir ao shopping fazer compras e não social, porque isso é coisa de babaca.

Ir de roupa curta a qualquer lugar, de missa a casamento.

Ir domingo ao mercado, jornaleiro e padaria.

Ir para outra cidade e ficar procurando algum morro para se localizar.

Já nem ligar mais pra bala perdida, que entra por um ouvido e sai pelo outro.

Lembrar que carioca velho sempre reclama da mudança da capital pra Brasília.

Levar tudo na esportiva. Inclusive a implicância e zoação dos outros.

Levar uma cantada de um operário de obra.

Mandar "geral" ir tomar no cu.

Morar em cima de um bar barulhento e ser amigo do dono.

Morar em outro estado, e apesar da tristeza ao ver nos noticiários os absurdos que acontecem na amada terrinha, não perder o sotaque, manter o estilo de vida – por mais incompreensível que possa ser para os nativos do local - e assim despertar fascínio e inveja por ser e continuar a ser Carioca,mermão.

Morar no Rio e não ir ao Rock In Rio.

Morrer de rir ao ver turistas dançando funk na televisão, como se esta fosse a última moda.

Mudar de opinião e de atitude ao sentir vontade. Desejo, logo faço. Não quero, tudo bem.

Multar e rebocar bike elétrica na blitz da Lei Seca.

Não dar a mínima bola para artistas e celebridades na praia ou em qualquer outro lugar.

Não falar no celular na Central pra não ser assaltado.

Não ganhar nada em sorteios.

Não parar de ouvir música.

Não pensar em conseqüências: fazer e pronto; se der merda, deu.

Não sair do Rio por causa da praia, e nunca ir à praia.

Não ter certeza se conhece quem te cumprimenta,mas cumprimentar de volta.

Não ter hora de ir à praia e nem de sair de lá.

Nascer e morar no Rio e nunca ter ido ao Cristo Redentor e/ou ao Pão de Açúcar.

Nunca ter ido a São Paulo e não ter a menor vontade de ir.

Odiar a poluição das praias, cinema tradicional dividido em salinhas menores; cartaz de farmácia tampando a fachada de prédios antigos; cerveja quente; dia de chuva; praia suja; sinal fechado.

Estar sempre perto de uma favela.

Odiar e amar o frio e o calor.

Odiar e não largar o telefone.

Odiar os argentinos que vão para Búzios nas férias e tratam as brasileiras como lixo.

Olhar a vida pelo melhor ângulo.

Olhar para o mar e ver como a vida e esta cidade podem ser tão belas.

Olhar pra toda bunda que passa.

Orgulhar-se do Teatro Municipal.

Ouvir funk sem fone - e no último volume – em qualquer lugar.

Parar no engarrafamento, atrasado, mas admirar o mar.

Parar no meio da night estrategicamente no Bar do Osvaldo e depois..... Quem conhece sabe... quem nunca viu deve ver um dia ou continuar na curiosidade.

Passar horas na academia, mesmo que seja para fazer uma social.

Passar horas na fila para comprar ingressos com antecedência para o “Festival do Rio” e desistir de ver o filme na hora.

Passar uma noite inteira no Jobi tomando chope com os amigos Na saída, encontrar o sol a pino e os sobreviventes da Pizzaria Guanabara, que fica no quarteirão anterior.

Pedir chope sem colarinho.

Pedir mate no restaurante.

Pedir pro motorista parar fora do ponto.

Pegar engarrafamento de frente pra Lagoa toda iluminada.

Pegar metrô na Central às 17:30.

Perder o último ônibus, mas não a saideira.

Perguntar a quem atrapalha a passagem: "QUE HORA QUE VAMO SERVIR O SALGADINHO?".

Perguntar o preço de tudo e não comprar nada.

Querer ir a Curitiba.

Rever o amigo da infância.

Rir do companheiro.

Rir do sotaque dos outros e depois ficar horas imitando.

Rir dos gaúchos, amar os nordestinos e chamá-los de “Paraíbas” – não importa de onde vieram - e desconhecer os mato-grossensses e os oriundos do resto do país.

Saber a diferença entre o Charm e o Funk.

Saber que a maior favela do mundo é a Rocinha.

Saber que a maior floresta urbana do mundo é a Floresta da Tijuca; (mesmo não sendo, a maior é a Pedra Branca, também no Rio).

Saber que a maior torcida do mundo é a do Flamengo.

Saber que o maior estádio do mundo é o Maracanã.

Saber que as obras do "Rio Cidade" foram desnecessárias, mas até que ficaram bonitinhas.

Saber que aquela pessoa de outro estado que reclama que tu fala chiado, no fim da noite estará enroscada na tua língua.

Saber que é do Estado do qual todos querem ser mas não podem.

Saber que em 15 minutos pode-se estar na praia ou numa floresta, pois a cidade fica situada entre ambos.

Saber que o Cristo Redentor está lá em cima de braços abertos para nós, e mesmo não podendo admirá-lo o tempo todo – dependendo da região da cidade – ter a certeza absoluta de que ele está lá para nos abençoar.

Saber que o feijão por baixo do arroz é a ordem certa.

Saber que o Metropolitan se chama Claro Hall; a Rua Vinícius de Morais se chama Montenegro; Copacabana é Copa e Ipanema não é Ipa;o Baixo Leblon não é perto do Melt;o Circo Voador nunca mais será o mesmo;e praia não é orla.

Saber que o sotaque com “X” se deve ao fato da cidade ter sido a moradia da Família Real Portuguesa durante muitos anos, e se mantém devido às sucessivas gerações da grande colônia lusitana, que até hoje se renova: em pleno Século XXi,com a crise na Europa,muita gente tem se mudado de Portugal para o Rio.

Saber que os ensaios do bloco Escravos da Mauá,churrasquinho de gato na Barraca do Chico e aquele Gelobol são leis.

Saber que pode,num domingo de sol, escolher uma das dezenas de praias para curtir.

Saber que quando o motorista vir que você está correndo, o ônibus ficará com a porta aberta, mas quando você chegar, ela será fechada e o veículo não vai parar.

Saber que quando o termômetro marca 20 graus e o sol se esconde entre as nuvens, é o dia ideal para tirar os casacos de couro e os cachecóis do armário.

Saber que ser carioca "Não é brinquedo não”.

Saber que ser carioca não é só nascer no Rio: é um estilo de vida.

Saber que todo final de semana tem uma festa pra ir.

Saber que vai pra gandaia,farra,noitada,night,porque balada é coisa de paulista.

Sair da faculdade ou do trabalho na segunda-feira e passar no Baixo Gávea para tomar uma gelada.

Sair da noitada e mandar um sanduba do Cervantes ou Pizzaria Guanabara depois.

Sair do Olimpo, na Vila da Penha e ir comer um X-Podrão na Avenida Brás de Pina, em frente ao Shopping da Penha, mas conhecido por lá como Favelão.

Sair no Bloco do Suvaco, Bola Preta, Banda de Ipanema e no Simpatia É Quase Amor.

Sair para a night de havaianas e cabelo molhado.

Se perder a caminho de Barra de Guaratiba porque esqueceu de virar na placa de “Vendo mel”, ou porque se encantou com a paisagem.

Se permitir.

Sempre concluir uma frase com "Cara”.

Sentir na boca um gosto insípido de segunda-feira.

Sentir o maior alívio quando o avião aterrissa no Galeão ou no Santos Dumont: Porque, apesar de tudo (e bota tudo nisso) o Rio ainda é o Rio.

Ser odiado do Rio pra baixo e ser amado do Rio pra cima. (OBS: Isso é um pouco de ilusão, porque esse ódio é bem estendido por todo o país,e não se prende a regionalismos)

Ser solidário.

Ser Zona Sul, Zona Norte, Zona Oeste ou Centro e se sentir um todo nesta cidade mais que maravilhosa.

Ser acolhedor e receber turistas como merecem, tratando-os bem, com amor, simpatia,carinho e entender o bem que trazem para a economia.

Ser amigo do estranho.

Ser blasé com a própria rotina.

Ser fã do Drummond.

Ser hospitaleiro, alegre, divertido, amigo.

Ser marrento porque pode ser… afinal, olhe só onde a gente mora ou nasceu!

Ser natural.

Ser obrigado a conviver com formas perfeitas em corpos dourados.

Ser responsável com o seu querer.

Ser sincero ao falar e verdadeiro ao omitir.

Sonhar com a chegada do Metrô à Zona Sul e à Barra.

Sorrir para o surreal.

Sorrir para qualquer mendigo na rua.

Sorrir sempre, mesmo quando não há tantos motivos.

Subir a Pedra da Gávea.

Subir até o Cristo Redentor para ver a cidade com todos os seus contornos;

Identificar-se " com o habitual "Fala sééééério".

Tentar burlar a segurança, mesmo que seja só para sentir que foi mais esperto.

Ter a certeza de que antes de um artista internacional marcar o local do show no Brasil, todos já saberão que será no Rio.

Ter a certeza de que não existe outro lugar à altura no mundo.

Ter as praias mais lindas do mundo e tomar sol na laje.

Ter alguma coisa comprada num camelô da Sete de Setembro ou da Uruguaiana.

Ter amigos na academia onde malha.

Ter amigos no condomínio onde mora, no clube que freqüenta, no curso, na faculdade e no trabalho.

Ter amigos no condomínio onde mora.

Ter as torcidas dos times cariocas: Flamengo,Vasco,Fluminense e Botafogo.

Ter boas lembranças do tempo em que o mate e o limão só eram vendidos em galões de alumínio: Carioca de verdade não esquece o grito da legião de ambulantes que equilibrava os barris nos ombros e servia os refrescos em cones de papel: “Olha o mate, olha o limão!” e logo vinha a outra legião de vendedores dos Biscoitos Globo (salgado e doce); além disso,o padeiro batia nas portas das casas e apartamentos com um grande cesto de pães quentinhos,e depois vinha o leiteiro com as garrafas de vidro do Leite Vigor,que ostentavam em tinta bem vermelha o nome do produto e uma vaquinha.Enquanto isso,era possível ouvir o grito: “Garrafeeeeiroooooo” dado pelo cara que recolhia qualquer casco.

Ter certeza de que esta é a cidade mais linda do mundo, mesmo sem conhecer nenhuma outra.

Ter fama de arrumar briga sem motivo.

Ter fé em si, no futuro, em Deus e na certeza de que tudo dará certo.

Ter medo de tudo: medo de abrir a carteira na rua,falar no celular na rua,ficar parada no sinal de trânsito, o bueiro explodir.

Ter orgulho de ser carioca e pena de paulistas.

Ter quase obrigação de tirar uma soneca após o almoço.

Ter que conviver com a mortandade de peixes da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Ter que conviver e saber que existe no Rio uma Polícia chamada de Municipal, totalmente inoperante, pois nunca se vê qualquer ação eficaz dela,que até protege o camelôs do Centro: existe sempre um policial da própria corporação que se antecipa e avisa a eles do próximo rapa.

Ter saída marcada e esperar o amigo atrasado.

Ter tomado um porre de batida no Bar do Oswaldo.

Ter um botequim do coração.

Ter um "inglês próprio": falar "Eix" ao invés de "Ass", e "Iéix", no lugar de "Yes".

Ter um jeitinho para tudo, menos para a morte.

Ter uma história de assalto pra contar a uma audiência emocionada e profundamente respeitosa. Até alguém surgir com um caso mais cabeludo, é claro.

Ter uma loja de sucos preferida.

Ter uma praia: cada um elege a sua, e defende com unhas e dentes as qualidades superiores que ela tem.

Ter uma vista maravilhosa na Urca.

Ter votado no Brizola pelo menos uma vez na vida.

Tirar os casacos do armário assim que a temperatura baixa a 24ºC e achar que está o maior frio.

Tomar água de coco no mirante do Leblon.

Tomar café na Saraiva do Centro só pra ler as revistas de graça.

Tomar mate ou água de coco sempre que estiver com sede.

Tomar uma cerveja em frente ao mar sem ser feriado.

Tomar sustos freqüentes com a beleza da cidade: da saída to Túnel Rebouças na Lagoa, ou do momento em que o carro entra na avenida que margeia a Baia de Guanabara, na Urca, ou do oceano visto do Elevado do Joá,ou da Prainha surgindo na estrada para Grumari. Essas paisagens são velhas conhecidas e, no entanto, continuam nos surpreendendo.

Tomar um cafezinho no balcão do botequim em xícara de louça grossa.

Torcer para alguma escola de samba, mas viajar no carnaval porque a cidade fica cheia de pessoas chatas.

Tratar tanto homens quanto mulheres de "cara" sem que isso seja considerado uma afronta.

Usar a frase “A gente se fala” para quem você sabe que nunca vai encontrar.

Usar All Star em todos os lugares e ocasiões.

Usar havaianas em qualquer hora e lugar e ter a certeza que está arrasando.

Usar os engarrafamentos para comprar Biscoito Globo, água mineral, cervejinha e apreciar a paisagem.

Usar roupa de academia em todos os lugares.

Ver o inédito como óbvio.

Ver o nascer do sol na praia depois de uma night.

Ver um show na praia.

Ver uma das capivaras da Lagoa: O macho mora em frente ao Parque do Cantagalo e pode ser visto no começo da tarde. A fêmea mora perto do Vasco e aparece ao crepúsculo.

Vivenciar a cultura da espontaneidade que só quem é carioca sabe, e só quem mora no Rio entende.

Viver esbarrando em conhecidos.

Viver na Cidade Maravilhosa e não se orgulhar de monumentos.

Viver na melhor cidade do mundo, mas passar todos os feriados na Região dos Lagos.

Viver sem obrigações.

Voltar pra casa depois de trabalhar e olhar a paisagem verde.

Zoar gringo na praia e dizer que todo mundo é alemão.

Zoar os turistas dizendo: “Eu moro onde vocês passam suas férias”.









E há duas instituições carioquíssimas: o Matte Leão e os Biscoitos Globo. Dizem que carioca aprende a falar pedindo à mãe que compre esses dois produtos na praia.

Uma pessoa me enviou essa matéria sobre o assunto,mas infelizmente não há o nome ou um link do autor. De qualquer maneira,aí está algo muito interessante para quem deseja saber um pouco mais sobre o Rio.



Uma história carioca: Nossa praia começa na Lapa.

A praia do carioca começa na Lapa:




















São 4h50 da madrugada na escura Rua do Senado, na Lapa. Até os mais renitentes boêmios já entregaram os pontos. Não se vê viva alma, a não ser em frente ao sobrado número 273, onde cerca de 50 pessoas aguardam a abertura da fábrica do tradicional biscoito de polvilho Globo.

Daqui a algumas horas, o sol estará brilhando na orla, mas a praia do carioca nasce ali, na escura Rua do Senado.


O primeiro da fila chegou às 2h. Fausto Ferreira da Silva, 80 anos, compra biscoitos para vender na Praia do Leblon há oito, desde que deixou o emprego de cozinheiro num restaurante do Centro.
























– O produto é bom! – empolga-se. – Esse biscoito é dinheiro em caixa. Criança de um ano já aponta o dedinho quando a gente passa – diz o vendedor, que paga R$ 25 por um saco de 50 unidades.

Pontualmente às 5h, um senhor franzino, de fala mansa mas articulada e segura, chega para abrir a fábrica. Milton Ponce segue essa rotina desde 1962, quando decidiu ampliar a produção da padaria Globo, em Botafogo. Paulista, ele chegara ao Rio em 1954, trazendo de uma panificação antiga do bairro do Ipiranga a fórmula que junta polvilho, ovos, leite, açúcar, sal, gordura hidrogenada e água.


























– Muita gente pergunta por que não aumento a produção. Quase todos os dias, recebo propostas de franquia, mas isso aqui é como um bolo que você faz na sua casa.

Segundo ele, sua maior satisfação é fornecer um meio de vida a milhares de pessoas que vendem o biscoito nas praias do Rio e pelas ruas da cidade.

- Muita gente aposentada ou desempregada vem aqui comprar o biscoito e sobrevive da venda.


























Milton diz que o segredo do sucesso são seus funcionários – 18 no turno da manhã e quatro à tarde – que chegam a produzir 15 mil saquinhos com dez rosquinhas cada durante o verão.

– Tenho funcionários comigo a 42, 38, 35 anos. Aquele está aqui desde os 11 – conta, enquanto aponta para o forneiro Ednaldo Valdevino do Nascimento, 36.


















Levado à fábrica por dois tios, ele acorda todos os dias às 3h20 para trabalhar.

– A carcaça já calejou com esse horário.

Mas quem mete mesmo a mão na massa é Jailton da Silva Cardoso, que exercita os músculos e a sensibilidade dos dedos para achar o ponto certo. Como não pode usar luvas, sua maior preocupação é com a higiene.



















– Se colocar numa batedeira a massa queima porque não leva fermento – explica. – Já tentei usar luvas, mas elas impedem que eu saiba o ponto exato.

Milton brinca com a fidelidade dos funcionários.

– Tem uma senhora aqui que, se eu demitir, dá um jeito de entrar pelo telhado. A maioria das empresas erra quando troca os empregados que ganham mais. Eu valorizo essa equipe.

Seu calcanhar de aquiles é o empacotamento nos saquinhos de papel vendidos nas praias – os únicos que resistem à ação do sol.

– Já procuramos na Itália e na Alemanha, mas não existem máquinas para esse trabalho.

Ver empacotadores como William da Silva Torres atuando é um espetáculo. Numa velocidade tão grande que suas mãos desaparecem, ele enche um saco em menos de cinco segundos.
























Apesar de não ser carioca, Milton já incorporou o espírito gozador e não liga para os apelidos de biscoito de vento ou "me engana que eu gosto":

– Devemos muito do nosso sucesso à essa irreverência.


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